Da janela do ônibus

OLHAR

Olhando pela janela busco o lugar mais longe que meus olhos podem alcançar.

Os olhos são armas:
A carência, sem o olhar, entristece;
A lembrança, sem olhar para o passado, esquece;
O sonho, sem olhar pra dentro, some;
O curioso, sem olhar para o livro, aliena;
A pobreza, sem o olhar do Estado, morre;
A alma sem o olhar da vida, esvai-se.

Meus olhos agora olham o lápis que escreve à procura da palavra certa.
(A ideia sem o lápis se perde)
Mas os verdadeiros e mais profundos sentimentos são inomináveis!
(O sentimento, sem nome, confunde)

Dentro de nós existe um lugar aonde as palavras não chegam.
Um lugar sem-nome, sem-conceitos.
Nesse lugar há um silêncio absoluto porque bocas, sons e ruídos não existem.
O olhar sem palavras é só sentido.

A poetiza sem as palavras é cega.

Camila Oleski

Anti-herói

Dos meus melhores sonhos,
Dos mais profundos nasce um guerreiro
Ele combate a mesmice dos vãos dias,
As ideias insensatas e preconceituosas 
No íntimo, invade a noite que chora pela a ausência de essência 
E a completa, brincalhão e dissoluto
Toma seu lugar nas vozes que clamam pela justiça
Mas em seu âmago teme pela solidão
Por não ter uma chama acalentando seu corpo sedento por sentido
Guerreiro, anti-herói
Sua armadura é tingida de ouro das batalhas vencidas,
Dado seu valor
Intrépido guerreiro, ensine-me a ser gente.
Trave uma luta,
Pingue de suor depois de vencê-la e
Por fim, tome o vinho para aliviar seu peito ofegante e sua boca seca.
Por dentro, ainda não há o alívio de missão cumprida.

Camila Oleski

06/07/2014 - 04/08/2016

Magnólia

Congratulações não servem pra mim.
Condescendo mais com o amor e menos com o ódio,
Mais com mato e nem tanto com asfalto.
Um dia hei de merecer mais abraços e não tanto espaço,
O silêncio que diz mais que a fala,
A mala que sai em viagem para nunca mais voltar,
A matula que contém apenas o essencial.
Benquerença e menos angústia.

Dê-me magnólia!
Rosas são muito belas e cobiçadas, não as quero.
Quero magnólias!
Bálsamo desconhecido,
A pétala sedosa, suave aos olhos,
Ordinária aos distraídos e desavisados.
No entanto, lá permanece, há séculos;
Enquanto árvore, cria raízes,
Arbusta-se quando pertinente e,
Quando buquê, revela sua volúpia e venustidade.
Magnólia, magnânima...

Camila Oleski

Melodia derradeira

Desperto com seu corpo colado ao meu
Seu cheiro devasso;
Deleito-me em sua boca sagaz
A língua que passeia no meu céu
Mãos fustigam minha pele
Embevecidos corpos ardentes
Horas que penso, segundos
Meu despudor em seu corpo suado
Lascivos na penumbra daquele quarto,
Que ouvia o gemido do seu prazer revelado em gozo
Melodia derradeira para um dia de saudade.

Camila Oleski

PATUÁS E PACTOS

Cansada de patuás e pactos
De conversinhas e versinhos
De pensar e hiperventilar
Acabo com a angústia já
Virarei sabiá
Que acaba por cantar e achar sons à meia noite
Sem açoite
E mais quinhão
No turbilhão das tempestades
Sem castidade
Mais paixão


Camila Oleski

MAIO/2014

Democracia demagógica

Na veia da humanidade,
Correm rios de (in)capacidade
Na casca da terra, o homem corre moendo
O fecundo mar morre lenta e gradativamente
O doce rio, onde, antes, nadavam meus avós, agora está pintado de lama
Alegria foi entristecida pelo igual, exatamente pelo mesmo, tédio
Hipocrisia sólida
Democracia demagógica
Demografia manobrável
Os escravos são pintados de cidadão
Cavadas famílias felizes
Dores no peito, solidão na casa cheia
Atos de memória vazios
O que fica, isso sim é permanente,
É conhecido: dor e tristeza.

Camila Oleski

A última notícia

A última notícia que tive de mim foi de você  Que me disse que eu havia me perdido  E que achava que eu não podia ir tão longe Mas fui ...