Dispenso Monteiro Lobato

Acho que chocada é um eufemismo pra traduzir o que senti quando li "Negrinha" de Monteiro Lobato. É um conto insano que diz respeito ao tratamento dispensado por uma mulher abastada dado à criança negra num período "pós-escravidão", tratamento este camuflado de boa ação. Coloca-a como um objeto, um saco de pancadas, utiliza termos pejorativos e pesadíssimos para se referir à criança pra não dizer mais. Espero que a Unicamp, ao resgatar e solicitar um texto desse para o vestibular, não deixe passar despercebidas as questões do preconceito, direitos humanos etc. claramente presentes naquela aberração de texto, que incrivelmente já foi considerado em 2000 um dos melhores contos do século XX. 

"Conservava Negrinha em casa como remédio para os frenesis. Inocente derivativo: - Ai! Como alivia a gente uma boa roda de cocres bem fincados!..."

"A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora senhora de escravos - e daquelas ferozes, amigas de de ouvir cantar o bolo e estalar bacalhau. Nunca se afizera ao regime novo - essa indecência de negro igual a branco e qualquer coisinha: a polícia!"

"O corpo de Negrinha era tatuado de sinais, cicatrizes, vergões. Batiam nele os da casa todos os dias, houvesse ou não houvesse motivo. Sua pobre carne exercia para os cascudos, cocres e beliscões a mesma atração que o ímã exerce para o aço. Mãos em cujos nós de dedos comichasse um cocre, era mão que se descarregaria dos fluidos em sua cabeça. De passagem. Coisa de rir e ver a careta..."

Camila Oleski

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A última notícia que tive de mim foi de você  Que me disse que eu havia me perdido  E que achava que eu não podia ir tão longe Mas fui ...