Noite

A noite é minha amiga
Seu silencio, meu afago
No âmago do meu desassossego existe, pelo menos, uma trégua:
A decente, amiga e maravilhosa noite
Sob o luar finjo que sou a pessoa mais fortuita do mundo
Consigo transcender aquilo que amargura
Consigo deixar o pesar de lado
É bela e famigerada aos amantes e boêmios
Mas a mim é a companhia ilibada, que apenas assiste quieta e persistente
Consente com as minhas indignidades...
Minhas imundices parecem recônditas numa noite de lua nova

Camila Oleski

Fragmento de prosa

“Naquela tarde, seus pensamentos vagavam por uma época em que se sentia livre para viver mais em paz. Era uma forma de aliviar sua ansiedade que aumentava toda a vez que pensava na possibilidade de se enveredar por outros caminhos que não os que estava acostumado. Tinha pavor de pensar em cruzar com pessoas que não eram aquelas com as quais trocava olhares rasos de bom dia. Para ele, a época de viver sendo ele mesmo parecia utópica tamanho era o emaranhado no qual tinha se envolvido. Simplesmente não conseguia pensar, ter olhar crítico, não conseguia ter opinião sobre as coisas. Aquele sofrimento parecia não ter fim. Sentia que sua época de viver não era aquela em que se encontrava agora. Estava encarcerado num espaço-tempo. Muitas vezes, pegava-se estranhando o que seu melhor amigo lhe dizia. Parecia não compreendê-lo, pois aquela linguagem, já não a compreendia mais.”

Camila Oleski




                                                                                                                           

TALVEZ

Eu prefiro o talvez
Talvez é a certeza de todas as possibilidades
Talvez é sempre a melhor escolha
É a certeza do “quem sabe?”!
No talvez, o acontecimento vira surpresa
É o compromisso com o quiçá,
É a certeza do inusitado, inédito
É no acaso do talvez que as melhores coisas acontecem, as melhores pessoas aparecem
É viver tudo como se fosse a primeira vez
É não ser escravo dos próprios quereres
Camila Oleski

Poesia de amor

Gosto de escrever poesia de amor
Nela me desfaço em desejo

Amor que é traduzido em palavras
se converte em música
e leva brisa que carrega a história piegas do adeus dos amantes

É na poesia que conheço a borboleta
que, flutuando no ar fecundo,
acha o lírio amarelo,
cuja seiva adocicada,
alimenta sua alma soturna, porém infatigável

Camaleoa das palavras,
esconda-se atrás daquele arbusto de prosopopéias!

Ah, o amor...
Nada como escrever com carinho
sobre o mancebo garboso
que anda pelo passeio
por onde deito meus olhos para encontrar o seu sorriso tinhoso

Gosto de sentir o amor com que escrevo
Ele parece tão concreto quanto a paixão que por você não cessa
Atrás daquela noite de calor intenso
Em que meu coração disparado
Encontrava o seu naquele abraço.

Camila Oleski

Pesadelo

No ser mulher, escondem-se desgraças
As máscaras são colocadas, as paredes, repintadas
Mas por baixo, mágoas
Mulher usada
Mulher com medo,
guarda seu segredo
para ninguém ouvir
Mulher desgraçada,
cozinha e faz a mesa mal amada,
de sobremesa uma bofetada
Mulher contente, acorda e consente
Com um sorriso aparentemente decente,
faz café, ainda com fé
Vai trabalhar e buscar onde tenha um minuto de paz
Chega em casa na esperança
de que nesta noite não haja manguaça
Mesmo assim a rechaça
chega e desgraça
Vai pra cama com um hematoma
E, com seu inimigo ao lado,
Dorme e entra em coma
Sem direito a sonho
Só ao medonho
pesadelo.

Camila Oleski

À deriva

Meu barco está à deriva em um mar de esquecimento
Minha nau navega, sem rumo, mas ao balanço das ondas
Sou aquele pescador que segue a estrela-guia na esperança de achar terra firme
A terra-firme que me faz por os pés no chão
Ao mar, porém, agora entrego todos os meus sonhos
Minha companhia são pensamentos, brisa, água, estrelas, nuvens, sol e lua
Minha preocupação são as tempestades e tormentas
Mas com elas cresço
Sem elas me torno apenas comum
Ainda há um sentimento de não pertencimento ao mundo
Portanto, prefiro a incerteza do mar aberto à dureza da terra

Camila Oleski

Gota passageira

Tu me calaste
Minha língua, já não a reconheço
Devolva-me minhas palavras,
Não as jogues ao vento
Sim, meu egoísmo,
Dê-me de volta!
Aquilo que tu chamas de egoísmo
Eu chamo de medo
De permitir que me conheças de verdade

Ser-me-ei a mesma,
Ao lembrar que deitei em seu peito que é como a noite sem estrelas.
Aquela pele inquieta,
Que não acha casa onde te oferecem abraço
Passarinho, que voa calado,
Não acha ninho e nem sua revoada
Ouço o coração palpitando, mas não é o meu

(pobre do meu coração afundado em lama
Que não foi feita de terra e chuva -
Porque se assim fosse seria fértil -
Mas de lodo de um rio podre e esquecido pela cidade que cresce)

Teus pés querem apenas aquele calçado esfolado
Que gasta a rua na noite escura
Rumo à folgança, onde finges feliz
Tuas mãos querem beijar novas mãos
Como as minhas foram um dia, suadas pela brincadeira
Cabelos caídos ao chão, arrancados pelos dedos que não acham as palavras corretas
No livro da vida que não tem sentido

Aquela ruela que viu nossa primeira aventura
Debruçou-se tenaz e, incrédula, apostou na fluidez,
Na ausência de sentido daquela cena
Gota passageira de orvalho no vidro
Que nasce sem propósito e cujo sol do alvorecer seca quase que imediatamente

Apago a luz e parece que estás ao meu lado
Falando bobagens
E eu consternada por tê-lo permitido entrar na minha casa
 É como se as palavras só me dissessem um só nome
É como se os pensamentos devaneassem em um só lugar
É como se eu tivesse perdido alguma coisa, mas não foi a bicicleta
É como se eu tivesse me perdido ao achar você

E não me encontrei mais

Camila Oleski

Minha casa

Busco na vida uma casa. Mas não é a estrutura de uma casa, um teto, um chão, ou paredes... O que uso pelo nome de casa é a sensação de estar em casa. Esta sensação pode ser sentida através de um abraço.
Estar em casa pode ser um abraço, uma companhia, um saber que se é amado. Estar em casa é ter um porto seguro. Estar em casa é ter uma família. Mesmo sem estar com a família, mesmo em viagem a trabalho, mesmo no trabalho, ou em qualquer outro lugar, sinto-me em casa porque sei que sou amada, esperada. Sinto-me em casa simplesmente porque sei que as pessoas que amo existem, estão lá.
A casa também pode estar num modo de vida, numa rotina que criamos e que desde a hora de acordamos até a hora de dormir sabemos como tudo será, acontecerá, pelo menos em parte porque a vida é sempre inesperada, a cada dia uma nova vida, um novo dia. Esta sensação não implica num controle das coisas, das pessoas ou da vida, mas numa sensação. Num sentimento de tranqüilidade, de paz, calma, de certeza de que sou amada, na certeza de que amo, sem condições.
Sou a pessoa que busca construir este lar. Sou a pessoa que busco num abraço, numa rotina, num estilo de vida, a minha casa. Depois que crescemos, buscamos construir este lar esta sensação de estar em casa, de estar no lugar certo, fazendo as coisas certas. Estava pensando... queria um canto só meu e da minha filha, da minha família. Na verdade, não é o meu canto, não é um lugar, mas sim, um sentimento de estar em casa, é um sentimento de aconchego, de segurança.
Eu já senti isso um dia. Primeiro acho que foi com a minha família de origem, ou seja, meu pai, minha mãe, meus irmãos, depois com meu primeiro namorado, depois com meu segundo namorado e primeiro marido. Era uma sensação boa, uma sensação de segurança. Agora, tudo está acabado. Com a separação, a sensação de casa sumiu e deu lugar à insegurança, medo, ansiedade... Meu teto caiu. Mas, tento que segurá-lo com as mãos porque tenho minha filha e quero ser o porto seguro dela.

Acho que, basicamente, o ser humano busca isso na vida: a sua casa, o seu lar. Desde que ele nasce quer ter uma segurança, um abraço quentinho, no qual se esquece de tudo e fica apenas aquela sensação gostosa, de prazer, de paz, sentindo a respiração do outro. Que saudade.

Camila Oleski

Palavra

Palavra-não-dita é vácuo
É uma ilha
A palavra-dita vira sentido
Dá sentido ao não dito
Ao silencio que não soube se expressar,
À experiência que se emudeceu, porque sem-palavra
Aí a palavra-expressa encontra casa até em quem não a disse,
Mas queria dizer e não tinha coragem, vontade.
Palavra-medo
Mais-palavra corta, arrebata, dói
O coração cala  
Ou a boca cospe sua raiva visceral
A palavra-dita já não é mais minha, mas de outrem.

Camila Oleski


Dedin de prosa

Este blog foi criado para dar vazão a algumas produções minhas, dentre elas poesias e pequenos textos. Faz tempo que sinto a necessidade de divulgar o que sou, o que poderia ser e o que não sou mas gostaria. São reflexões, quimeras, despudores, invenções, palavras que calam, enfim ACALENTOS E INTENSIDADES!

Camila Oleski

A última notícia

A última notícia que tive de mim foi de você  Que me disse que eu havia me perdido  E que achava que eu não podia ir tão longe Mas fui ...