Tu me calaste
Minha língua, já não a reconheço
Devolva-me minhas palavras,
Não as jogues ao vento
Sim, meu egoísmo,
Dê-me de volta!
Aquilo que tu chamas de egoísmo
Eu chamo de medo
De permitir que me conheças de verdade
Ser-me-ei a mesma,
Ao lembrar que deitei em seu peito que é como a noite sem
estrelas.
Aquela pele inquieta,
Que não acha casa onde te oferecem abraço
Passarinho, que voa calado,
Não acha ninho e nem sua revoada
Ouço o coração palpitando, mas não é o meu
(pobre do meu coração afundado em lama
Que não foi feita de terra e chuva -
Porque se assim fosse seria fértil -
Mas de lodo de um rio podre e esquecido pela cidade que
cresce)
Teus pés querem apenas aquele calçado esfolado
Que gasta a rua na noite escura
Rumo à folgança, onde finges feliz
Tuas mãos querem beijar novas mãos
Como as minhas foram um dia, suadas pela brincadeira
Cabelos caídos ao chão, arrancados pelos dedos que não acham
as palavras corretas
No livro da vida que não tem sentido
Aquela ruela que viu nossa primeira aventura
Debruçou-se tenaz e, incrédula, apostou na fluidez,
Na ausência de sentido daquela cena
Gota passageira de orvalho no vidro
Que nasce sem propósito e cujo sol do alvorecer seca quase
que imediatamente
Apago a luz e parece que estás ao meu lado
Falando bobagens
E eu consternada por tê-lo permitido entrar na minha casa
É como se as palavras
só me dissessem um só nome
É como se os pensamentos devaneassem em um só lugar
É como se eu tivesse perdido alguma coisa, mas não foi a
bicicleta
É como se eu tivesse me perdido ao achar você
E não me encontrei mais
Camila Oleski