Calabouço

No calabouço de minh’alma
Prendo todos os meus medos

Aqueles que tive o infortúnio de conhecer
Sortilégios, desalentos, aberrações, transgressões
Na masmorra do meu coração
Escondo meus desafetos, mas também
E, como de um jeito proibido de ser,
Guardo aquele que não quero perder
Amante que se banha no meu regato de prazer

Camila Oleski

Festa na chuva


Olho para a chuva

Lembro-me da vida que ria pra mim
Os rostos sem rugas
Molhados pela festa na chuva
Pulo nas poças como quem pula a parte de mim que dói
Olho para o céu, cinza... 
Dégradé de cores que não são primárias, mas essenciais
Firmamento que me diz que a água não vai parar tão cedo
E então sinto os pingos batendo em meu rosto e respingando já quentes em outras partes do meu corpo de menina
Água que escorre pela pele vira cachoeira na curva do umbigo
Olho para outro, feliz
E ambos, apenas com os olhos de cumplicidade de um momento pleno, 
decidem continuar brincando!

Camila Oleski

Chuva

Chuva,
Molhe minh’alma sôfrega,
Regue meu peito dolorido pela despedida,
Lave o suor seco de meu rosto vivido,
Amordace minha boca ávida,
Cale meu ventre vazio, oco,
Pinte a minha pele de ocre, quero afundar nesta terra lamacenta

Chuva,
Acalente ao menos minha noite eivada de dor,
Seu carinho mitiga minha sede de querer mais,
repouse em meu colo quente e embaçado, pois ofegante.

Camila Oleski

A última notícia

A última notícia que tive de mim foi de você  Que me disse que eu havia me perdido  E que achava que eu não podia ir tão longe Mas fui ...