A gaiola

Naquela manhã, o homem não ouviu o canarinho cantar. Encucou e foi ver. Na gaiola, estava a pequena ave cujo amarelo resplandecia feito o sol ao amanhecer. O homem examinou, olhou e não viu nada que pudesse estar impedindo a ave de cantarolar. Passou o dia e a casa, que antes era amarela, foi ficando cinza. Já era noite e o homem foi pra cama.

No dia seguinte, o homem acordou, mas viu que não era cedo: o dia havia começado há muito tempo. “Raios de ave!”, reclamou. Foi até a gaiola e a ave estava lá, amarelinha. Comia, bebia e pulava de um poleiro a outro, faceira.

O dia passou cinza. O sol, antes amarelo, estava pretejando. As árvores estavam ficando pequenas e desbotadas. O canário, pelo contrário, brilhava feito estrela nova, amarelinho como sol.

O homem, naquele silêncio que gritava aos seus ouvidos, relinchava: “Este passarinho imprestável! Não me acorda mais de manhã, não está cantando e não está fazendo brilhar o dia.” 

A noite chegou e com ela um silêncio mudo. O homem foi para a cama sem ter sono. Tremia devido à raiva daquele animalzinho, mas queria tentar relaxar.

Ao acordar, a sensação dele era de que estava noite ainda, pois não conseguia ver nada, era só escuridão. Caminhou tateando as paredes tentando achar um interruptor. Sentia, no entanto, algo gelado e comprido, como um bastão de ferro. Estranhou. Foi aí que ouviu o passarinho cantar e sentiu uma sensação de alívio. “Finalmente o canarinho está cantando!”, pensou.

Quando o sol raiou brilhante e quente, pôde ver. O terror dominou seu corpo. A gaiola era tão pequena que mal podia se mexer. Do lado de fora, o canário voava e cantava livremente. 

Camila Oleski

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A última notícia que tive de mim foi de você  Que me disse que eu havia me perdido  E que achava que eu não podia ir tão longe Mas fui ...